Quando ainda era estudante do segundo grau, parece que foi ontem, mas na verdade já se passaram 10 anos [como o tempo passar], adorava as aulas de literatura, nunca tive um professor de literatura ruim,apenas bons professores de literatura [e isso é muito importante para se gostar da disciplina], queria poder dizer isso a todos eles um dia, mas nunca mais os encontrei, interessante porque em Teresina todo mundo encontra todo mundo, enfim. Como de praxe, estudamos as diversas escolas literárias, eu tinha a minha preferida, e a menos preferida, e ambas pertenciam a mesma escola, eram apenas períodos diferentes. A que mais gostava era o romantismo da 3° geração, que denominaram como “mal do século” que tratava de temas obscuros como a morte, subjetivismo, o egocentrismo, o individualismo, a evasão na morte, o saudosismo, o pessimismo, a angústia, o sofrimento amoroso, o desespero, o satanismo e a fuga da realidade. [depois vou postar um texto bobo e antigo, extremamente adolescentesco sob a influência desse período]. E a que menos gostava era o da 1° geração, não conseguia entender o exagero dos autores com saudades da terra natal.
.Hoje, gosto igualmente dos dois períodos e relendo o poema clássico que representa essa geração de românticos, “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias percebo o quanto esse poema é atual e penso em quantas pessoas se encontram espalhadas pelo mundo, longe da sua casa, da sua família por motivos diversos e sentem ou sentiram o mesmo que eu e o que ele sentiu ao escrever esse poema. Mas, ao menos, eu me sinto calma e não tão aterrorizada quanto ele se sentia achando que nunca mais voltaria para seu lar: “Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá." Eu não duvido que realmente seja aterrorizante saber que você está longe do lugar onde cresceu, onde você conhece tudo e muitos e que há a possibilidade de nunca mais voltar, como na época da dita-dura nas décadas de 1960 e 1970 que muitos tiveram que se exilar por causa de questões políticas em nosso país uma vez que discordavam do sistema, que não aceitavam não ter liberdade no lugar que consideravam seu, e por isso tiveram que ir embora sem data de volta, acredito que alguns devem ter morrido em terras estrangeiras. Agora até consigo compreender e conceber quando nas aulas de história o professor dizia que além das doenças, os negros morriam de banzo, de tristeza, com saudade da terra natal.
Quando pensei em escrever um texto sobre saudosismo e sobre o sentimento que ontem se intensificou por conta do dia de Teresina, eu lembrei, de có, somente do poema de Golçaves Dias, ao procurá-lo para colocar algumas partes no texto,e descobri que há muitas versões, muitos foram os que escreveram sobre o tema, então garanto que milhões, bilhões, não sei ao certo, foram os que já sentiram mas não expuseram com tanta maestria como Carlos Drummond de Andrade, Casimiro de Abreu, Oswald de Andrade, Murilo Mendes, Affonso Romano de Sant´Anna, Guilherme de Almeida,Mario Quintana, Jose Paulo Paes, Chigo Buarte de Holanda e, até Jô Soares [vale a pena conferir as versões].
Com essa nostalgia que eu me permito, não estou querendo dizer que não haja lugares bonitos, que não haja pessoas interessantes, que não haja comidas gostosas, que tudo é melhor no lugar de onde vim, de jeito nenhum. Adoro viajar, mas viajar e conhecer é uma coisa, morar é outra, há 5 anos moro longe da minha casa, sai do meu cenário original, da minha zona de conforto, construi outros cenários em outros lugares, adquiri conforto, o conforto do tipo em que você não se sente deslocado, adorei perceber que me sentia à vontade em um cenário que não era originalmente meu e perceber que o estranhamento estava indo embora e que estava me adaptando, é uma sensação boa, porque você quer se adaptar, mas é difícil e em um deles eu me senti tão a vontade ao ponto de dizer: moraria aqui, mas mesmo assim nunca vai ser seu cenário original, ao menos para mim, mas esse é um sentimento muito particular.
Acredito que o pior castigo seja ficar longe dos seus e os gregos já haviam notado isso, a pior pena que aplicavam aqueles que cometiam um delito grave era o exílio, era você deixar de ser um cidadão, você se tornava nada, você passava a ser apenas um estrangeiro, você se encontrava do lado de fora. Eles possuíam uma relação muito peculiar com a cidade onde nasceram que atualmente se perdeu um pouco, mas de forma nenhuma estou falando de nacionalismo [do tipo que deu origem ao fascismo italiano ou o nazismo alemão] ou patriotismo, era diferente. Você era conhecido por suas referências, você era filho de alguém e de uma cidade, essas eram suas referências. Eles possuíam uma noção de comunidade muito estreita com o a noção de indivíduo, o “indivíduo” [entre aspas porque esse termo não existia nesse período é um termo moderno, seria anacronismo] se tornava homem convivendo com os seus, mantendo suas raízes, ou seja, dentro da comunidade eles construíam a sua individualidade que não significa o mesmo que individualismo [e assim mais uma vez mostro minha veia comunitarista?].
Quando mudei da minha cidade pela primeira vez, eu não tive a síndrome de que tudo é melhor por lá como alguns tem, mas também jamais falei mal, as pessoas me conhecem e passam a querer conhecer Teresina, mas eu realmente acho que seja um bom lugar pra se conhecer, embora tenha ouvido uma vez que não é, mas acredito que você não pode querer que o lugar te acolha, que as pessoas te acolham se você não se permite. E agora que estou fora do meu país falo muito do Brasil e desfaço mitos, desdigo coisas, [muitas delas querendo matar a pessoa] voltando... desdigo que para se dançar samba precisa tirar a camisa, que o Brasil é na África, que a capital é São Paulo ou Rio de Janeiro, que falamos espanhol e pacientemente explico aspectos culturais, climáticos, culturais, históricos e políticos. E assim estou aberta a conhecer outras culturas, mas sempre com os ouvidos e os olhos bem abertos para que em nenhum momento surja alguma coisa diferente do que o Brasil realmente é. Mas não precisei sair da minha cidade ou do meu país para descobrir isso, uma vez vi uma frase no msn de um amigo com a qual me identifiquei muito, sempre fui :"piauiense apaixonada, nordestina revoltada, brasileira entusiasmada.Cidadã do mundo e bairrista por opção."
Nesse momento poderia terminar o texto com chave de ouro, mas vou me permitir ser piegas: PARABÉÉÉNS MEU PIAUÍ!!!
hehe
ResponderExcluirÓtimo texto. Sabe aquela história, eu posso falar mal dos meus pais, do meu irmão, do meu amigo, do meu país, mas vem alguém de fora falar mal que eu viro bicho! hahaha
Não que eu fale mal, mas me revolto com algumas coisas e acho que estamos sim muito atrasados em relação à muita coisa. Mas em outras, estamos até adiantados. Acho que a sensação que você tem longe de "casa" depende muito do que te levou a sair de lá. Se vc foi forçado, como é o caso dos exilados, ou mesmo que tenha sido forçado de uma maneira menos óbvia (como para ter uma educação melhor, por não ter passado no vestibular na universidade da sua cidade, essas coisas) a sensação pode ser de desamparo ou de deslocamento. Mas se vc sentir, lá no seu eu profundo, que está tomando a decisão mais certa, vc fica mais em paz, acho... não que não vá sentir saudades ou desdenhar seu lugar de origem, etc... mas acho que dá pra ficar em paz com a distância mais facilmente.
Viajei??
.: Dé, não acho que você esteja viajando de forma nenhuma,como falei no texto acho que você pode tornar um lugar diferente de onde você nasceu como seu, como você está fazendo, o que eu não gosto é dos brasileiros que fazem isso e desdenham de onde vieram, tem uma brasileira aqui, tenho cada história para contar... quem sabe dedique um texto todo para ela, com as pérolas, rsrs... :. :))
ResponderExcluirbeijos
Eba! Quero, quero!!! Adoro pérolas!
ResponderExcluirSou suspeita pra falar desse assunto, mas ouso fazer um breve comentário: sinto que lugar bom mesmo é aquele onde estão as pessoas que amamos!!! Na verdade, nao sou adepta daquele papo "o meu é o melhor". Por outro lado, acho que viver fora de casa é uma experiência única e que devemos aproveitar ao máximo as oportunidades que a vida nos oferece, isso não inclui a negação a nossas origens (podemos nos adaptar a outras realidades, sem, no entanto, esquecermos de onde viemos)! O fato de outras pessoas serem diferentes, seja porque são de outra nacionalidade, origem ou etnia, não significa que são melhores ou piores, significa apenas que são diferentes...daí a importância de respeitarmos o próximo, não porque são brasileiros, piauienses, teresinenses, mas porque são simplesmente SERES HUMANOS
ResponderExcluirParabens pelo texto!
bjoooo
.: Fê, obrigada pelos parabéns!! Gostei do seu comentário, também concordo que lugar bom é onde nos amam, acredito que esse lugar quase sempre coincide com o lugar de onde viemos, ou de onde nossa família está, ou de onde formamos uma...sugiro a todos a experiência de morar fora de casa, ela realmente é única e como tudo, ela tem seus problemas e seus benefícios, podemos até nos adaptar, tanto que esse cenário diferente do original às vezes passa a ser nosso. Eu realmente espero que o mundo perceba que todos somos seres humanos, apesar do lugar de onde viemos, e sinto tanto pela realidade não ser essa... :.
ResponderExcluirbeijoos
Sai de Teresina com 14 anos, mas ainda hoje não sinto que saí. Com todo o amor bem resolvido, sou uma filha que sabe que tem um porto e que escolheu não permanecer nele por muito tempo, tempo menor que o suficiente para me lembrar das características físicas e geográficas que me fizeram querer sair. Como todo amor, nada é perfeito. Teresina não tem mar!
ResponderExcluirSaudade de tu Alê! T!exto ótimo! Por que mesmo esse blog não surgiu antes?