Costumo ouvir com frequência a
seguinte frase: “três assuntos não devem ser discutidos: política, futebol e
religião”,“ah, tal candidato vai ganhar mesmo, vou voltar nele" ou
"para mim tanto faz, todos são ladrões mesmo”. Sei que política não se
encontra entre os temas favoritos da maioria da população brasileira, mas
o que me deixa mais indiginada é quando não se encontra entre os temas de
discussão daqueles que podemos denominar como elite intelectual brasileira, ou
seja, aqueles que não são apenas analfabetos funcionais, mas que conseguem
terminar os estudos do segundo grau e adentrar em uma universidade, seja ela
pública ou privada. Particularmente, não compartilho dos pensamentos
supramencionados, desde criança, política sempre foi um tema de destaque entre
os adultos com quem convivi, e está entre os temas por qual tenho grande
interesse. Acredito que política é um assunto que deve ser exaustivamente
debatido, o desencanto com a política não pode ser considerado uma desculpa
para a exclusão de um processo que talvez não o atinja diretamente, mas que com
certeza o atinge indiretamente, as eleições não podem ser vistas como um
incômodo passageiro, uma vez que o candidato eleito, seus atos perduraram, no
mínimo por quatro anos.
Lembro bem da primeira eleição que nosso atual presidente ganhou em 2002.Como
já mencionei, política sempre esteve entre os temas do meu interesse. No
entanto, sempre gostei mais da parte teórica, não parte prática, partidária,
apesar de ter participado ativamente no âmbito prático quando ainda fazia
graduação, não sei o que acontecia, sempre acabava participando de algum C.A ou
até mesmo do DCE e nessas participações me decepcionei muito com a política não
teórica, mas isso não fez com que eu achasse o processo menos importante. Em
2002, a Universidade Federal do Piaui havia escolhido uma cor para
representá-la e essa cor era a cor vemelho-revolução do Partido dos
Trabalhadores. Não gosto de extremismos, mas eu entendia plenamente o que
estava acontecendo, vi o mesmo acontecer na eleição do Collor,quando ainda era
criança. Naquela época, a população estava desperançada achava que estava
fazendo uma enorme mudança, que tudo iria mudar. Foram duas realiades
diferentes mas o sentimento de amparo que era carregado pelos dois candidatos,
era o mesmo. Na UFPI, você não podia apoiar outro candidato que não fosse o
Lula, você não podia se negar a colocar um adesivo na sua pasta porque você
automaticamente era olhado de lado,apesar de tê-lo como candidato, eu não
compartilhei daquele esterismo em massa.
Vamos começar com a eleição de 1989, eu tinha apenas 6 anos de idade, não
entendia nada de política, é claro, nem mesmo sabia o que significava, mas
lembro-me de algumas coisas, lembro-me como minha família, em especial minha
avó, acreditava que as coisas iam mudar com o candidato Collor de Mello, que
com ele, o Brasil tinha uma possibilidade de progresso e acho que esse
sentimento foi compartilhado por toda a nação, era o Collor contra o Lula, não
o Lula de agora, o Lula polido, mas o Lula de outrora, não o Lula que
representa hoje a força de um homem do povo que chegou ao mais alto cargo da
nação brasileira, mas o Lula que tanto para a classe média quanto para os donos
dos meios de produção era considerado como uma ameaça, o representante de
reformas bruscas,e era justamente isso que essa classe não queria, acabaram de
sair de um cenário de repressão política. A “dita-dura” havia terminado, houve
a anistia,a manifestação das Diretas Já, e um lento retorno ao regime
democrático que teve como seu primeiro presidente civil, o Sarney, mas que não
havia sido colocado democraticamente pelo povo, mas por um colégio eleitoral e
assumindo somente após a morte de Tancredo Neves.
Collor pertencia ao PRN, Partido de Reconstrução Nacional, o nome do partido ao
qual pertencia já demonstrava para o que vinha, para reconstruir o Brasil, era
o que pensava a população naquele período, uma vez que realmente ia ser a
primeira eleição em que o presidente seria escolhido pela população. Hoje tal
partido é o atual PTC, Partido dos Trabalhadores Cristãos que entre seus nomes
ilustres encontra-se o finado Clodovil Hernandez e o apresentador de TV,
Ratinho. Lembro-me que era impossível alguém entrar na minha casa e não
sair com um adesivo do Collor. Hoje, eu sei que ele representava nada mais que
um playboy da oligarquia alagoana, desconhecido, patrocinado pela mídia e pela
elite. Mas naquele período a imagem vendida foi outra e essa imagem de
esperança foi comprada prontamente, e ele venceu as eleições de 1989. Começou
assim, o resto já sabemos, é de domínio geral: o primeiro presidente
democraticamente eleito do Brasil em vinte e cinco anos foi um fracasso,
cassado por um processo de impeachment, outro momento histórico na história
brasileira.
Em 1994, Lula novamente foi candidato à Presidência e concorria com Fernando
Henrique Cardoso, FHC, mas pela segunda vez perdeu. Lula liderava as pesquisas
mas após o lançamento do Plano Real, o ex-ministro da Fazenda no governo de
Itamar Franco, vice que assumiu a presidência após a cassação de Collor,
disparou nas pesquisas e não precisou de um segundo turno, ganhou no primeiro.
Foi cogitado a possibilidade do pacote de estabilização da moeda ter sido
lançado em um momento estratégico para fazer dele o presidente, não duvido, mas
acredito que não fora somente isso que fizera dele e não de Lula, o presidente
da República. Nesse período, Lula ainda não havia se desvinculado da imagem do
metalúrgico sem estudos e estava concorrendo com um sociológo. Sua capacidade
era colocada em cheque pelo fato de não possuir um canudo, todos se perguntavam
se ele seria realmente capaz de gerenciar um país, se ele seria capaz de nos
representar, ou seja, a cara do Brasil seria de um homem sem estudos. Isso
parecia ser incocebível, não somente naquela época mas ainda hoje, o futuro de
uma criança sempre são depositados nos estudos. Quem já não ouviu: “menino,
você quer ser alguém quando crescer, então estuda”, O estudo era e ainda é considerado
a principal arma para a ascenção social.
Em 2002, Lula se candidatou a presidência pela terceira vez, consecutiva. Mas
dessa vez, era diferente, ouvia-se que era a vez de Lula, que se não fosse
dessa vez não ia ser jamais. O FHC deixou o governo com uma popularidade
baixissima, apesar da implementação do Plano Real. Lula estava no lugar certo,
no momento certo, o cenário político era extremamente favorável a ele, mas o
que o ajudou muito foi as reformas das suas propostas políticas e o seu perfil:
o marketing, o cabelo, a barba, as roupas. Agora sim, aos olhos da
população, ele possuía a imagem que um presidenciável deveria ter, apesar de
não ter instrução, mas o que importava? Uma vez que o que candidato anterior
possuía de sobra era instrução e, mesmo assim, não atendeu as expectativas da
população, talvez alguém que viesse do povo, com conhecimento de causa de suas
carências pudesse efetivamente fazer o que o “candidator doutor” não o fizera.
Diferentemente de anos atrás, entre as medidas da plataforma petista se
encontravam a redução da taxa de juros para
promover o crescimento econômico, manutenção de contratos
internacionais e o acordo com o FMI, ou seja, esse Lula não estava distante
nem do povo e nem da classe empresarial, já não era uma ameaça a ambas, mas uma
solução. E a pergunta ficava no ar: Lula e o Partido dos Trabalhadores mudaram?
Mas naquele momento, a resposta a esse questionamento não possuía tanta
importância. Lula ganhou a eleição contra o candidato José Serra. Enfim, era a
vez do Lula, e foi por 8 anos,o metalúrgico de 1989, mudado ou não, tornou-se o
presidente do Brasil, e iniciou o seu discurso de posse no Congresso Nacional
defendendo a mudança, de um modelo de governo antigo e retrogrado para um, novo
e progressista. [E ai? Mudou?]
Agora volto a nossa atual situação política: 2010.Hoje, depois de dois mandatos
eleitorais do PT, a situação é diferente da de 2003 quando Lula fora eleito, o
atual quadro é totalmente diferente das duas eleições anteriores. Mais uma vez
me eximo do processo eleitoral, mas não por vontade própria, não vou votar
porque não estou entre os meus, não estou na minha pátria, mas nem por isso
deixei de acompanhar o que acontece no Brasil. No primeiro turno, eram quatro candidatos
a presidência, mas dentre eles, somente três realmente pareciam estar na
disputa e apenas dois pareciam realmente estar com chances reais de ocuparem o
cargo máximo em nosso país. Apesar da história de vida de cada um deles, o que
me chama a atenção é a seguinte questão, antes do Lula assumir a presidência do
país, e o PT ser o partido da situação, as eleições eram marcadas por vários
partidos de direita e um consagradamente considerado de esquerda, mas tivemos
todos os presidênciaveis provenientes de partidos teoricamente de
esquerda, Marina Silva que é do PV, Plínio Arruda que é do PSOL e Dilma
que faz parte o PT e um presidenciavel proveniente do PSDB, José Serra.
O cenário político não é de desamparo nem de desesperança, apesar dos escândalos
durante os 8 anos do governo Lula, ele é o presidente que conseguiu angariar a
maior porcentagem de popularidade, é ovacionado não só Brasil, mas ao redor do
mundo. Agora, temos três presidenciáveis que já tiveram contato com o partido
do qual nosso presidente faz parte e que pertencem a partidos considerados de
esquerda. O que eu vejo? Vejo que nosso presidente da República quer fazer com
que o eleitor acredite que ao votar na Dilma Rousseff, não estará somente
votando nela, mas em um projeto, para a continuação de um legado que deve ser
perpetuado. Vejo também uma mulher que estava no lugar certo e na hora certa,
que acabou sendo uma das candidatas a presidência da República, uma vez que o
escândalo do mensalão estremeceu o PT e inviabilizou os planos de José Dirceu
(ex-ministro chefe da casa civil) ou Antônio Palocci (ex-ministro da fazenda).
Em outras palavras, “não tem outro, vai tu mesmo”.Vejo uma mulher que
assim como nosso presidente, se chegar a ganhar, será outra candidata que nunca
exerceu um cargo eletivo, a presidência será seu primeiro. Vejo uma candidata
que assim como nosso presidente precisou mudar seu perfil para ser mais bem
aceita pela população, ou seja, realizou algumas cirurgias, perdeu 10kg e
substituiu os óculos pelas lentes, mas ao contrário dele não conta com arisma e
boa oratória. Mesmo assim, Dilma tornou-se um produto e tentou fazer com que o
povo se identificasse com ela para aumentar suas chances de vitória.
O outro candidato, José Serra, já presidenciável pela segunda vez consecutiva,
esteve no comando dos ministérios do planejamento e da saúde durante o governo
de FHC, foi deputado federal, senador e prefeito pelo estado de São Paulo.
Assim, como Dilma não possui nem carisma e nem uma oratória invejável, é
considerado como um sucessor do governo de FHC, o que me incomoda muito em
alguns pontos, entre eles a questão de conceber mais importância ao privado do
que ao público, particularmente quando se trata do ensino superior. Assim como
Lula no passado, ele é persistente na tentativa da candidatura a
presidência, mas sua tentativa parece não ter a mesma repercussão da época de
Lula em 2002, em que todos tinham certeza que era a vez dele, apesar de ter
grandes chances, chances reais. Em se tratando de política tudo pode acontecer,
e ambos sabem tão bem disso que no debate de ontem realizado pela toda poderosa
Globo, em nenhum momento se agrediram ou fizeram perguntas diretas entre si,
não são burros, já perceberam que o povo brasileiro não gosta de barraco, quer
dizer, quando se trata de política, e as eleições a presidência não podem ser
palcos de barraco como no Big Brother.
Hoje, vai ser Dilma [ou PT?] versus Serra. Marina Silva que em 2003, com a
eleição de Lula para a Presidência, foi nomeada ministra do Meio Ambiente, mas
pediu afastamento do cargo porque acreditava que não havia suporte a política
ambiental por parte do governo, no segundo turno se eximiu de apoiar um ou
outro. Apesar de também não ser carismática assim como os outros dois, é
muito coerente em suas escolhas e em sua trajetória política, por isso
vislumbrando ser candidato daqui a quatro anos, não quis vincular seu nome a
nenhum dos candidatos atuais, afinal de contas,muita água vai passar debaixo
dessa ponte, em quatro anos de governo para qualquer um dos dois que vencer
amanhã .
Ao meu ver, se formos analisar a história de vida de cada um dos
candidatos, ambos possuem potencial para gerenciar o nosso país, mas o
que me deixa preocupada é o que concerne as diretrizes consideradas mais
importante do que outras por exemplo. Não acredito que o Serra seja ousado e
burro o bastante para começar um processo de privatizações, mas considero que
ele não dará tanta importância a questão educacional quanto o governo do PT e
isso é um ponto importante porque não basta gerenciar um país como uma empresa
tomando como ponto de partida o hoje sem se preocupar com medidas que são
imprescindíveis para o futuro e uma delas é a questão educacional. No que
concerne a Dilma, acredito que ela assim como Lula não governará só, o que não
será um problema a sua falta de experiência em um cargo eletivo, mas me
preocupa consideravelmente a idéia que o país deve crescer a qualquer custo
desconsiderando problemas relativos a questão ambiental que Marina tanto
defende e que deve estar em primeiro plano, conciliando com a idéia de
progresso. A posição dela tutibiante em voltar atrás nas suas declarações sobre
a questão da legalização do aborto, deixando no ar a possibilidade da religião
intervir no Estado me deixou decepcionada. Mas ainda tem ao seu favor, o legado
do PT em oito anos de governo [né?].
Essa eleição foi uma batalha de
gigantes. Parece que o extremismo de 2002 se manifestou nessas eleições de
2010, mas dessa vez não se encontra do lado de apenas um candidato, mas de
ambos. Duas das minhas melhores amigas são símbolos desse extremismo, cada uma
delas defendem um candidato, recebo vários emails dizendo porque um é melhor do
que o outro, [leio todos] mas assim como os demais – nas redes sociais, nas
listas de debate, na conversa quotidiana, nos blogs da vida-, nunca permitem
que você ache que o outro candidato é melhor, parece que se você não
escolher o candidato que eles defendem, você é um alienado, você está jogando
seu voto fora, mas será que na verdade eu estou apenas exercendo meu
direito democrático ao voto? E
é disso que eu não gosto, a impossibilidade de uma discussão por causa de
extremismos, me deixa chateada quando alguém me explica, eu entendo o que a
pessoa disse, e mesmo assim digo que não concordo e a pessoa insiste e diz
“você não entendeu , e assim explica tudo de novo”.Eu entendi só não
concordo assim como ela não concorda comigo, o que tem de mal não termos
opiniões iguais? Por que eu preciso pensar igual a ela? Eu posso compreender o
pensamento sem ter que ser obrigado a estar de acordo. Mas a campanha esteve em
clima de guerra com a população extremamente divida. Minha avó costumava dizer
que cada povo tem o governo que merece, então estou ansiosa para saber
qual governo merecemos?