domingo, 31 de outubro de 2010

CADA POVO TEM O GOVERNO QUE MERECE?


     
            Costumo ouvir com frequência a seguinte frase: “três assuntos não devem ser discutidos: política, futebol e religião”,“ah, tal candidato vai ganhar mesmo, vou voltar nele" ou "para mim tanto faz, todos são ladrões mesmo”. Sei que política não se encontra entre os temas favoritos da maioria da população brasileira,  mas o que me deixa mais indiginada é quando não se encontra entre os temas de discussão daqueles que podemos denominar como elite intelectual brasileira, ou seja, aqueles que não são apenas analfabetos funcionais, mas que conseguem terminar os estudos do segundo grau e adentrar em uma universidade, seja ela pública ou privada. Particularmente, não compartilho dos pensamentos supramencionados, desde criança, política sempre foi um tema de destaque entre os adultos com quem convivi, e está entre os temas por qual tenho grande interesse. Acredito que política é um assunto que deve ser exaustivamente debatido, o desencanto com a política não pode ser considerado uma desculpa para a exclusão de um processo que talvez não o atinja diretamente, mas que com certeza o atinge indiretamente, as eleições não podem ser vistas como um incômodo passageiro, uma vez que o candidato eleito, seus atos perduraram, no mínimo por quatro anos.
            Lembro bem da primeira eleição que nosso atual presidente ganhou em 2002.Como já mencionei, política sempre esteve entre os temas do meu interesse. No entanto, sempre gostei mais da parte teórica, não parte prática, partidária, apesar de ter participado ativamente no âmbito prático quando ainda fazia graduação, não sei o que acontecia, sempre acabava participando de algum C.A ou até mesmo do DCE e nessas participações me decepcionei muito com a política não teórica, mas isso não fez com que eu achasse o processo menos importante. Em 2002, a Universidade Federal do Piaui havia escolhido uma cor para representá-la e essa cor era a cor vemelho-revolução do Partido dos Trabalhadores. Não gosto de extremismos, mas eu entendia plenamente o que estava acontecendo, vi o mesmo acontecer na eleição do Collor,quando ainda era criança. Naquela época, a população estava desperançada achava que estava fazendo uma enorme mudança, que tudo iria mudar.  Foram duas realiades diferentes mas o sentimento de amparo que era carregado pelos dois candidatos, era o mesmo. Na UFPI, você não podia apoiar outro candidato que não fosse o Lula, você não podia se negar a colocar um adesivo na sua pasta porque você automaticamente era olhado de lado,apesar de tê-lo como candidato, eu não compartilhei daquele esterismo em massa.
            Vamos começar com a eleição de 1989, eu tinha apenas 6 anos de idade, não entendia nada de política, é claro, nem mesmo sabia o que significava, mas lembro-me de algumas coisas, lembro-me como minha família, em especial minha avó, acreditava que as coisas iam mudar com o candidato Collor de Mello, que com ele, o Brasil tinha uma possibilidade de progresso e  acho que esse sentimento foi compartilhado por toda a nação, era o Collor contra o Lula, não o Lula de agora, o Lula polido, mas o Lula de outrora, não o Lula que representa hoje a força de um homem do povo que chegou ao mais alto cargo da nação brasileira, mas o Lula que tanto para a classe média quanto para os donos dos meios de produção era considerado como uma ameaça, o representante de reformas bruscas,e era justamente isso que essa classe não queria, acabaram de sair de um cenário de repressão política. A “dita-dura” havia terminado, houve a anistia,a manifestação das Diretas Já, e um lento retorno ao regime democrático que teve como seu primeiro presidente civil, o Sarney, mas que não havia sido colocado democraticamente pelo povo, mas por um colégio eleitoral e assumindo somente após a morte de Tancredo Neves.
            Collor pertencia ao PRN, Partido de Reconstrução Nacional, o nome do partido ao qual pertencia já demonstrava para o que vinha, para reconstruir o Brasil, era o que pensava a população naquele período, uma vez que realmente ia ser a primeira eleição em que o presidente seria escolhido pela população. Hoje tal partido é o atual PTC, Partido dos Trabalhadores Cristãos que entre seus nomes ilustres encontra-se o finado Clodovil Hernandez e o apresentador de TV, Ratinho. Lembro-me que era impossível alguém entrar  na minha casa e não sair com um adesivo do Collor. Hoje, eu sei que ele representava nada mais que um playboy da oligarquia alagoana, desconhecido, patrocinado pela mídia e pela elite. Mas naquele período a imagem vendida foi outra e essa imagem de esperança foi comprada prontamente, e ele venceu as eleições de 1989. Começou assim, o resto já sabemos, é de domínio geral: o primeiro presidente democraticamente eleito do Brasil em vinte e cinco anos foi um fracasso, cassado por um processo de impeachment, outro momento histórico na história brasileira.
            Em 1994, Lula novamente foi candidato à Presidência e concorria com Fernando Henrique Cardoso, FHC, mas pela segunda vez perdeu. Lula liderava as pesquisas mas após o lançamento do Plano Real, o ex-ministro da Fazenda no governo de Itamar Franco, vice que assumiu a presidência após a cassação de Collor, disparou nas pesquisas e não precisou de um segundo turno, ganhou no primeiro. Foi cogitado a possibilidade do pacote de estabilização da moeda ter sido lançado em um momento estratégico para fazer dele o presidente, não duvido, mas acredito que não fora somente isso que fizera dele e não de Lula, o presidente da República. Nesse período, Lula ainda não havia se desvinculado da imagem do metalúrgico sem estudos e estava concorrendo com um sociológo. Sua capacidade era colocada em cheque pelo fato de não possuir um canudo, todos se perguntavam se ele seria realmente capaz de gerenciar um país, se ele seria capaz de nos representar, ou seja, a cara do Brasil seria de um homem sem estudos. Isso parecia ser incocebível, não somente naquela época mas ainda hoje, o futuro de uma criança sempre são depositados nos estudos. Quem já não ouviu: “menino, você quer ser alguém quando crescer, então estuda”, O estudo era e ainda é considerado a principal arma para a ascenção social.
            Em 2002, Lula se candidatou a presidência pela terceira vez, consecutiva. Mas dessa vez, era diferente, ouvia-se que era a vez de Lula, que se não fosse dessa vez não ia ser jamais. O FHC deixou o governo com uma popularidade baixissima, apesar da implementação do Plano Real. Lula estava no lugar certo, no momento certo, o cenário político era extremamente favorável a ele, mas o que o ajudou muito foi as reformas das suas propostas políticas e o seu perfil: o marketing, o cabelo, a barba,  as roupas. Agora sim, aos olhos da população, ele possuía a imagem que um presidenciável deveria ter, apesar de não ter instrução, mas o que importava? Uma vez que o que candidato anterior possuía de sobra era instrução e, mesmo assim, não atendeu as expectativas da população, talvez alguém que viesse do povo, com conhecimento de causa de suas carências pudesse efetivamente fazer o que o “candidator doutor” não o fizera. Diferentemente de anos atrás, entre as medidas da plataforma petista se encontravam a redução da  taxa  de  juros  para  promover  o  crescimento econômico, manutenção de contratos internacionais e o acordo  com o  FMI, ou seja, esse Lula não estava distante nem do povo e nem da classe empresarial, já não era uma ameaça a ambas, mas uma solução. E a pergunta ficava no ar: Lula e o Partido dos Trabalhadores mudaram? Mas naquele momento, a resposta a esse questionamento não possuía tanta importância. Lula ganhou a eleição contra o candidato José Serra. Enfim, era a vez do Lula, e foi por 8 anos,o metalúrgico de 1989, mudado ou não, tornou-se o presidente do Brasil, e iniciou o seu discurso de posse no Congresso Nacional defendendo a mudança, de um modelo de governo antigo e retrogrado para um, novo e progressista. [E ai? Mudou?]
            Agora volto a nossa atual situação política: 2010.Hoje, depois de dois mandatos eleitorais do PT, a situação é diferente da de 2003 quando Lula fora eleito, o atual quadro é totalmente diferente das duas eleições anteriores. Mais uma vez me eximo do processo eleitoral, mas não por vontade própria, não vou votar porque não estou entre os meus, não estou na minha pátria, mas nem por isso deixei de acompanhar o que acontece no Brasil. No primeiro turno, eram quatro candidatos a presidência, mas dentre eles, somente três realmente pareciam estar na disputa e apenas dois pareciam realmente estar com chances reais de ocuparem o cargo máximo em nosso país. Apesar da história de vida de cada um deles, o que me chama a atenção é a seguinte questão, antes do Lula assumir a presidência do país, e o PT ser o partido da situação, as eleições eram marcadas por vários partidos de direita e um consagradamente considerado de esquerda, mas tivemos todos os presidênciaveis provenientes de partidos teoricamente de esquerda,  Marina Silva que é do PV, Plínio Arruda que é do PSOL e Dilma que faz parte o PT e um presidenciavel proveniente do PSDB, José Serra.
            O cenário político não é de desamparo nem de desesperança, apesar dos escândalos durante os 8 anos do governo Lula, ele é o presidente que conseguiu angariar a maior porcentagem de popularidade, é ovacionado não só Brasil, mas ao redor do mundo. Agora, temos três presidenciáveis que já tiveram contato com o partido do qual nosso presidente faz parte e que pertencem a partidos considerados de esquerda. O que eu vejo? Vejo que nosso presidente da República quer fazer com que o eleitor acredite que ao votar na Dilma Rousseff, não estará somente votando nela, mas em um projeto, para a continuação de um legado que deve ser perpetuado. Vejo também uma mulher que estava no lugar certo e na hora certa, que acabou sendo uma das candidatas a presidência da República, uma vez que o escândalo do mensalão estremeceu o PT e inviabilizou os planos de José Dirceu (ex-ministro chefe da casa civil) ou Antônio Palocci (ex-ministro da fazenda). Em outras palavras, “não tem outro, vai tu mesmo”.Vejo uma mulher que assim como nosso presidente, se chegar a ganhar, será outra candidata que nunca exerceu um cargo eletivo, a presidência será seu primeiro. Vejo uma candidata que assim como nosso presidente precisou mudar seu perfil para ser mais bem aceita pela população, ou seja, realizou algumas cirurgias, perdeu 10kg e substituiu os óculos pelas lentes, mas ao contrário dele não conta com arisma e boa oratória. Mesmo assim, Dilma tornou-se um produto e tentou fazer com que o povo se identificasse com ela para aumentar suas chances de vitória.
            O outro candidato, José Serra, já presidenciável pela segunda vez consecutiva, esteve no comando dos ministérios do planejamento e da saúde durante o governo de FHC, foi deputado federal, senador e prefeito pelo estado de São Paulo. Assim, como Dilma não possui nem carisma e nem uma oratória invejável, é considerado como um sucessor do governo de FHC, o que me incomoda muito em alguns pontos, entre eles a questão de conceber mais importância ao privado do que ao público, particularmente quando se trata do ensino superior. Assim como Lula no passado, ele  é persistente na tentativa da candidatura a presidência, mas sua tentativa parece não ter a mesma repercussão da época de Lula em 2002, em que todos tinham certeza que era a vez dele, apesar de ter grandes chances, chances reais. Em se tratando de política tudo pode acontecer, e ambos sabem tão bem disso que no debate de ontem realizado pela toda poderosa Globo, em nenhum momento se agrediram ou fizeram perguntas diretas entre si, não são burros, já perceberam que o povo brasileiro não gosta de barraco, quer dizer, quando se trata de política, e as eleições a presidência não podem ser palcos de barraco como no Big Brother.
            Hoje, vai ser Dilma [ou PT?] versus Serra. Marina Silva que em 2003, com a eleição de Lula para a Presidência, foi nomeada ministra do Meio Ambiente, mas pediu afastamento do cargo porque acreditava que não havia suporte a política ambiental por parte do governo, no segundo turno se eximiu de apoiar um ou outro. Apesar de também não ser carismática  assim como os outros dois, é muito coerente em suas escolhas e em sua trajetória política, por isso vislumbrando ser candidato daqui a quatro anos, não quis vincular seu nome a nenhum dos candidatos atuais, afinal de contas,muita água vai passar debaixo dessa ponte, em quatro anos de governo para qualquer um dos dois que vencer amanhã .  
            Ao meu ver, se formos analisar a história de vida de cada um dos candidatos,  ambos possuem potencial para gerenciar o nosso país, mas o que me deixa preocupada é o que concerne as diretrizes consideradas mais importante do que outras por exemplo. Não acredito que o Serra seja ousado e burro o bastante para começar um processo de privatizações, mas considero que ele não dará tanta importância a questão educacional quanto o governo do PT e isso é um ponto importante porque não basta gerenciar um país como uma empresa tomando como ponto de partida o hoje sem se preocupar com medidas que são imprescindíveis para o futuro e uma delas é a questão educacional. No que concerne a Dilma, acredito que ela assim como Lula não governará só, o que não será um problema a sua falta de experiência em um cargo eletivo, mas me preocupa consideravelmente a idéia que o país deve crescer a qualquer custo desconsiderando problemas relativos a questão ambiental que Marina tanto defende e que deve estar em primeiro plano, conciliando com a idéia de progresso. A posição dela tutibiante em voltar atrás nas suas declarações sobre a questão da legalização do aborto, deixando no ar a possibilidade da religião intervir no Estado me deixou decepcionada. Mas ainda tem ao seu favor, o legado do PT em oito anos de governo [né?].
            Essa eleição foi uma batalha de gigantes. Parece que o extremismo de 2002 se manifestou nessas eleições de 2010, mas dessa vez não se encontra do lado de apenas um candidato, mas de ambos. Duas das minhas melhores amigas são símbolos desse extremismo, cada uma delas defendem um candidato, recebo vários emails dizendo porque um é melhor do que o outro, [leio todos] mas assim como os demais – nas redes sociais, nas listas de debate, na conversa quotidiana, nos blogs da vida-, nunca permitem que  você ache que o outro candidato é melhor, parece que se você não escolher o candidato que eles defendem, você é um alienado, você está jogando seu voto fora, mas será que na verdade eu estou  apenas exercendo meu direito democrático ao voto? E é disso que eu não gosto, a impossibilidade de uma discussão por causa de extremismos, me deixa chateada quando alguém me explica, eu entendo o que a pessoa disse, e mesmo assim digo que não concordo e a pessoa insiste e diz “você não entendeu , e assim explica tudo de  novo”.Eu entendi só não concordo assim como ela não concorda comigo, o que tem de mal não termos opiniões iguais? Por que eu preciso pensar igual a ela? Eu posso compreender o pensamento sem ter que ser obrigado a estar de acordo. Mas a campanha esteve em clima de guerra com a população extremamente divida. Minha avó costumava dizer que cada povo tem o governo que merece, então estou ansiosa para  saber qual governo merecemos? 

terça-feira, 26 de outubro de 2010

OS CLICHÊS AINDA FAZEM PARTE DA MINHA VIDA.


A seção “meu querido diário” está de volta, depois ter lido o comentário que uma amiga de longa data [eita, já estou falando como meus pais] fez sobre o texto “Não leia, não vale a pena, é só mais um texto sobre relacionamentos”. Ela escreveu: “Quanto ao segundo texto, te digo que vale sim a pena ler e refletir. Só na tua cabeça mesmo que tu não é romântica, viu? Igualzinha a mim só que não sabe. [...] ” Também acho que eu sou romântica, mas a minha maneira, sempre preferi o singelo e o verdadeiro em detrimento do rasgado e sazonal. Então resolvi postar um texto que escrevi em 03/08/03. Ele foi escrito em guardanapos na mesa do “Frei Burguer”, um lanche que eu gostava de ir em Teresina, porque nessa época ainda não havia cultivado o bom hábito de sempre levar comigo um caderninho de anotações. Apesar de achar que muito desse texto não se parece mais comigo, muito ainda parece....acredito que mudei menos do que pensei e mais do que eu queria, mas de uma coisa eu tenho certeza: os clichês ainda fazem parte da minha vida.

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Apesar das pessoas não perceberem, sou romântica até não poder mais, acredito no amor eterno, acho a idéia do casamento ótima e tenho certeza absoluta de que nasci para ser mãe. E assim como a maioria das mulheres quero alguém, que me desperte de madrugada só porque mal pode  esperar para ouvir minha voz, que  mande flores só porque é quarta-feira e que me faça sentir a pessoa mais importante mesmo não sendo, que me trate bem  e que diga que é por minha causa que agüenta os dias ruins. Bem, mas  não sou exatamente a garota romântica que fica atrás da vidraça da janela olhando o céu e pedindo às estrelas que tornem seus sonhos realidade.
Longe disso! Sonho, sim, e muito. Mas corro atrás do que quero, mesmo quando as circunstâncias não são favoráveis. No entanto, não chego a dar murros em ponta de faca. Meu senso de realidade é suficiente para me fazer reagir e partir para outra, quando as coisas não dão certo, mesmo que acabe sofrendo. Mas passar meses, anos da  vida, chorando no travesseiro por causa de um amor perdido não é muito do meu feitio.
Mas, às vezes, acho que definitivamente, eu não tenho nada da mocinha casadoira e romântica. Sou muito prática, tenho os dois pés no chão e sei muito bem o que quero da vida. Vou à luta, saio com seus amigos, viajo, estudo, batalho pelo que quero. Mas será que realmente sei o que quero? Estou passando por um momento em que eu estou muito perdida mas quando começo a pensar sobre os meus vinte anos percebo que não é um momento apenas porque eu nunca me encontrei, estou perdida, é um fato, mas sei que não sou a única a estar perdida, deve ter outras pessoas, por aí, também perdidas assim como eu.
Não sei mais quais são minhas certezas e nem minhas dúvidas, elas se fundem, sou tão cética que não sei do que realmente desconfio. Mas tenho uma certeza: não se pode viver em um conto de fadas, não existe príncipe encantado e estou longe de ser uma cinderela, talvez toda essa história de amor seja apenas “uma versão do Papai Noel para os adultos”, não existe esse amor holliwudiano.
Não tenho dúvida: na minha receita de vida, o romantismo ficou mesmo de fora. Como ficaram de fora os imprevistos, as paixões inesperadas, as emoções que podem brotar de repente, vindas não se sabe de onde... Talvez fosse bom eu não levar tão a ferro e fogo as minhas convicções e o meu poder de dirigir a vida para onde quiser, como bem entender, porque o inesperado pode fazer uma surpresa, mas assim  como Luís Fernando Veríssimo também desconfio do destino e acredito mais em mim.
Ou talvez eu seja uma frustrada que nunca foi muito boa com os homens por causa das minhas próprias neuroses e por isso fujo da realidade, mas  tive tudo o que quis no meu mundinho, e não foi real, por isso continuo infeliz a maior parte do tempo, perdi a chance de ser feliz por minha  culpa, por causa do meu medo exacerbado, por minha  confusão sem limites, enfim por minha  covardia de ser feliz, de me  entregar, minha confiança camuflada que confia desconfiando, porque nunca amei, “quase amei”, só que não existe quase amar, então na verdade eu não amei ou amei e não desconfiei que amei porque ainda não percebi o que é amar.
Por isso me descuidei das coisas velhas, dos meus princípios, tentando coisas novas mas não preciso tentar coisas novas porque não preciso mudar. Quero alguém mas não qualquer um, quero alguém que me prove que me merece e pode ser meu.
É muito complicado, sou cheia de clichês.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

- POR FAVOR, UMA PASSAGEM DE IDA E VOLTA.

 
           Quando ainda era estudante do segundo grau, parece que foi ontem, mas na verdade já se passaram 10 anos [como o tempo passar], adorava as aulas de literatura, nunca tive um professor de literatura ruim,apenas bons professores de literatura [e isso é muito importante para se gostar da disciplina], queria poder dizer isso a todos eles um dia, mas nunca mais os encontrei, interessante porque em Teresina todo mundo encontra todo mundo, enfim. Como de praxe, estudamos as diversas escolas literárias, eu tinha a minha preferida, e a menos preferida, e ambas  pertenciam a mesma escola, eram apenas períodos diferentes. A que mais gostava era o romantismo da 3° geração, que denominaram como “mal do século” que tratava de temas obscuros como a morte, subjetivismo, o egocentrismo, o individualismo, a evasão na morte, o saudosismo, o pessimismo,  a angústia, o sofrimento amoroso, o desespero, o satanismo e a fuga da realidade.  [depois vou postar um texto bobo e antigo, extremamente adolescentesco sob a influência desse período]. E a que menos gostava  era o da 1° geração, não conseguia entender o exagero dos autores com saudades da terra natal.
            .Hoje, gosto igualmente dos dois períodos e relendo o poema clássico que representa essa geração de românticos, “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias percebo o quanto esse poema é atual e penso em quantas pessoas se encontram espalhadas pelo mundo, longe da sua casa, da sua família por motivos diversos e sentem ou sentiram o mesmo que eu e o que ele sentiu ao escrever esse poema. Mas, ao menos, eu me sinto calma e não tão aterrorizada quanto ele se sentia achando que nunca mais voltaria para seu lar: “Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá." Eu não duvido que realmente seja aterrorizante saber que você está longe do lugar onde cresceu, onde você conhece tudo e muitos e que há a possibilidade de nunca mais voltar, como na época da dita-dura nas décadas de 1960 e 1970 que muitos tiveram que se exilar por causa de questões políticas em nosso país uma vez que discordavam do sistema, que não aceitavam não ter liberdade no lugar que consideravam seu, e por isso tiveram que ir embora sem data de volta, acredito que alguns devem ter morrido em terras estrangeiras. Agora até consigo compreender e conceber quando nas aulas de história o professor dizia que além das doenças, os negros morriam de banzo, de tristeza, com saudade da terra natal. 
            Quando pensei em escrever um texto sobre saudosismo e sobre o sentimento que ontem se intensificou por conta do dia de Teresina, eu lembrei, de có, somente do poema de Golçaves Dias, ao procurá-lo para colocar algumas partes no texto,e descobri que há muitas versões, muitos foram os que escreveram sobre o tema, então garanto que milhões, bilhões, não sei ao certo, foram os que já sentiram mas não expuseram com tanta maestria como Carlos Drummond de Andrade, Casimiro de Abreu, Oswald de Andrade, Murilo Mendes, Affonso Romano de Sant´Anna, Guilherme de Almeida,Mario Quintana, Jose Paulo Paes, Chigo Buarte de Holanda e, até Jô Soares [vale a pena conferir as versões].
            Com essa nostalgia que eu me permito, não estou querendo dizer que não haja lugares bonitos, que não haja pessoas interessantes, que não haja comidas gostosas, que tudo é melhor no lugar de onde vim, de jeito nenhum. Adoro viajar, mas viajar e conhecer é uma coisa, morar é outra, há 5 anos moro longe da minha casa, sai do meu cenário original, da minha zona de conforto, construi outros cenários em outros lugares, adquiri conforto, o conforto do tipo em que você não se sente deslocado, adorei perceber que me sentia à vontade em um cenário que não era originalmente meu e perceber que o estranhamento estava indo embora e que estava me adaptando, é uma sensação boa, porque você quer se adaptar, mas é difícil e em um deles eu me senti tão a vontade ao ponto de dizer: moraria aqui, mas mesmo assim nunca vai ser seu cenário original, ao menos para mim, mas esse é um sentimento muito particular.
            Acredito que o pior castigo seja ficar longe dos seus e os gregos já haviam notado isso, a pior pena que aplicavam aqueles que cometiam um delito grave era o exílio, era você deixar de ser um cidadão, você se tornava nada, você passava a ser apenas um estrangeiro, você se encontrava do lado de fora. Eles possuíam uma relação muito peculiar com a cidade onde nasceram que atualmente se perdeu um pouco, mas de forma nenhuma estou falando de nacionalismo [do tipo que deu origem ao fascismo italiano ou o nazismo alemão] ou patriotismo, era diferente. Você era conhecido por suas referências, você era filho de alguém e de uma cidade, essas eram suas referências. Eles possuíam uma noção de comunidade muito estreita com o a noção de indivíduo, o “indivíduo” [entre aspas porque esse termo não existia nesse período é um termo moderno, seria anacronismo] se tornava homem convivendo com os seus, mantendo suas raízes, ou seja, dentro da comunidade eles construíam a sua individualidade que não significa o mesmo que individualismo [e assim mais uma vez mostro minha veia comunitarista?].
            Quando mudei da minha cidade pela primeira vez, eu não tive a síndrome de que tudo é melhor por lá como alguns tem, mas também jamais falei mal, as pessoas me conhecem e passam a querer conhecer Teresina, mas eu realmente acho que seja um bom lugar pra se conhecer, embora tenha ouvido uma vez que não é, mas acredito que você não pode querer que o lugar te acolha, que as pessoas te acolham se você não se permite. E agora que estou fora do meu país falo muito do Brasil e desfaço mitos, desdigo coisas, [muitas delas querendo matar a pessoa] voltando... desdigo que para se dançar samba precisa tirar a camisa, que o Brasil é na África, que a capital é São Paulo ou Rio de Janeiro, que falamos espanhol e pacientemente explico aspectos culturais, climáticos, culturais, históricos e políticos. E assim estou aberta a conhecer outras culturas, mas sempre com os ouvidos e os olhos bem abertos para que em nenhum momento surja alguma coisa diferente do que o Brasil realmente é. Mas não precisei sair da minha cidade ou do meu país para descobrir isso, uma vez vi uma frase no msn de um amigo com a qual me identifiquei muito, sempre fui :"piauiense apaixonada, nordestina revoltada, brasileira entusiasmada.Cidadã do mundo e bairrista por opção."
            Nesse momento poderia terminar o texto com chave de ouro, mas vou me permitir ser piegas: PARABÉÉÉNS MEU PIAUÍ!!!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

DISCUSSÃO VÁLIDA, ARGUMENTOS INVÁLIDOS.


            Hoje,eu tinha me programado para postar mais um texto do tipo “meu querido diário” seguindo o ritmo do texto anterior, mas acho mais interessante tratar do assunto da semana que provocou-me um sentimento de indignação: a discussão sobre a descriminalização [ou não] do aborto no Brasil. Não é porque eu não esteja entre os meus que não acompanhe o que acontece com meu país, diferentemente de alguns [outra história, outro texto], eu vejo os jornais-falado através da tv online [quando minha net permite], leio os jornais, converso com as pessoas, e agora faço parte de uma das coisas mais “inúteis” da net [e estou gostando] que me twitta [porque agora já existe o verbo twittar] com mensagens sobre o Brasil.
            Essa discussão,em voga, não me surpreende, mas por trás dela, há um problema gravíssimo que eu não tenho a menor idéia de quando e como pode ser solucionado. O brasileiro não sabe diferenciar o público do privado, não entende que estruturas politicas, sociais e econômicas não podem ser estruturadas pelo modelo rural do Brasil de outrora, dos primeiros anos, do início do período colonial em que tais estruturas eram sustentadas pela família de modelo patriarcal. Por favor, não estamos mais nessa época, [“graças a Deus”? ] não podemos lidar com os assuntos públicos como se fossem extensão da nossa família, e agora vou ser o mais didática possível: quero dizer que há uma separação entre Estado e família, Estado e Igreja. E essa discussão, assim como o nepotismo e a corrupção, são consequências dessa confusão entre o que é público e o que é privado, dessa mentalidade de um período que já passou.
            A questão da descrimilização do aborto não é a mesma questão em que você se posiciona a favor ou contra o aborto, você pode ser a favor da descriminalização, mas contra o aborto que não vai estar sendo incoerente. Pelo contrário, você estará tomando uma decisão baseada em juízo de fato e não de valor [isso é certo ou isso é errado], mas mantendo seus princípios ético-morais[teórico-práticos, vale ressaltar que ética e moral são duas coisas diferentes] e religiosos. Dessa maneira, ao tratar desse tema [que é um verdadeiro vespeiro], não quero tomar uma posição pessoal a favor do aborto, dizendo se faria ou não [até mesmo porque não sei],a questão tratada não é essa, uma vez que não é uma situação específica e pessoal, mas de uma possível regulamentação sobre o assunto, ou seja, legalizar o aborto não significa que você deva fazer um, apenas significa que se você quiser, não precisa se colocar nas mãos de um açougueiro, correndo o risco de uma morte prematura, de problemas inflamatórios e nem de uma possível esterelidade, você terá um suporte hospitalar que cuidará do procedimento. Enfim, o que eu não acho cabível é uma pessoa defender a não descriminalização do aborto no Brasil fundamentando-se apenas em pressupostos religiosos.
            Consigo perceber [e é facílimo] que nosso cotidiano está impregnado de valores cristãos, que, com certeza, o Brasil sofreu e ainda sofre influências cristãs em sua moral, no entanto não significa que muitos dos princípios morais que a Igreja católica carrega seja princípios que nasceram com ela, muitos já existiam antes mesmo da sua institucionalização, já havia códigos morais e civilizações, como a grega, que os possuía e sem nenhuma relação com a fé cristã, a igreja católica apenas se apropriou de muitos princípios de códigos morais diversos, por exemplo, não matar não é um principio que seja atribuído apenas a fé cristã, assim como não desejar a mulher do próximo, mas o conceito do perdão sim, esse é extremamente cristão, assim como a caridade. A lei têm por base a moral de cada povo, mas moralidade não está estritamente atrelada a religião, ou a um credo, não significa que a lei tem que levar em consideração a moral cristã, principalmente porque o estado é laico e,portanto, não deve estar submetido a nenhuma religião.
            Já estive na posição em que amigas grávidas sem saber o que fazer, cogitaram a possibilidade de um aborto e perguntaram-me: você faria? Naquele momento de desespero, eu sei que o que elas queriam ouvir, sei que queriam um apoio, que eu dissesse: claro, faria, vamos lá, não é nada demais. Essa situação é muito complicada, na verdade, não sei o que faria, não vou dizer que o aborto não é nada demais, é uma agressão ao corpo da mulher e milhares de mulheres morrem ou pior, ficam estéreis por causa de um procedimento mal-feito. Mas, disse e digo, só saberia se estivesse em tal situação,qualquer opção que a pessoa tome, eu apoio, quem sou eu para julgar? Vamos deixar de salvar vidas, deixar de resolver um problema de saúde pública porque os padres e os pastores são contra? Vamos deixar posicionamentos de escolha pessoal com fundamentação religiosa se sobrepor a uma questão pública? Quer dizer, “eu” que não sou religiosa, vou perder o direito sobre o meu corpo porque eles são contra?
            E mais uma vez, todos esses problemas nos remetem a um maior, o problema educacional. Essas amigas, as quais mencionei, poderiam sim, evitar uma gravidez não desejada para não chegar ao ponto de um aborto, é claro. Elas não são analfabetas, fazem parte de uma elite intelectual, já que conseguiram entrar e sair de uma faculdade, seja ela privada ou pública, o que não é a realidade da maioria da população e mesmo assim, com todas as informações acessíveis encontraram-se em tal circunstância, imaginem as mulheres que não possuem o mesmo privilégio que elas. Claro que eu, também, acho que deva se investir na prevenção, mas isso demanda tempo, enquanto isso, milhares de crianças nascem dessas mães e propagam a mesma história ou mesmo são largadas como um chinelo velho que não serve mais. A regulamentação do aborto não quer dizer que em toda esquina terá uma mulher fazendo um, ou seja, regulamentação não é sinônimo de banalização. Até mesmo porque deve haver um período entre um aborto e outro, mesmo uma mulher que tenha feito muitos abortos em um determinado momento não poderá mais fazê-lo, porque fragiliza a parede do útero o que pode remeter a problemas gravíssimos no futuro.
            A questão do aborto é só mais uma dentre muitas outras que encontram-se no rol de taboos da sociedade brasileira. Há anos, o homossexualismo era considerado uma doença e estava entres as doenças estipuladas pela OMS, atualmente não é mais [o que é óbvio], mas a Igreja Católica e as milhares de igrejas evangélicas distribuídas pelo Brasil [e elas sabem o real significado da expressão, crescei e multiplicai-vos] consideram que seja. Isso significa que o homossexualismo é uma doença? Quer dizer que o Estado não pode estipular leis que garantam o bem-estar desses cidadãos que também pagam impostos, que também contribuem para sociedade porque os moralistas de plantão condenam? Vou mais longe. Convoco todas as brasileiras: mulheres, parem de usar anticoncepcional, parem de usar camisinha, parem de tomar a pílula do dia-seguinte e, claro, não abortem [porque não usaram os métodos anticonceptivos condenados pelos religiosos], vamos super-povoar o Brasil, vamos aumentar a pobreza, a miséria e, é claro,baixar os indíces de qualidade de vida.
            Nessa discussão,não acho legítimo que argumentos religiosos e pessoais interfiram numa questão de Estado, no entanto há um argumento legítimo e relevante relacionado ao período que devemos identificar como o início da vida. Se o início da vida é dado no momento que o feto é formado, o Estado tem por obrigação tutelar a integridade física não só da mulher, mas igualmente, do nascituro [colegas do direito, se posicionem sobre o tema, deixem comentários, vamos conversar sobre]. E a questão que fica no ar é: qual o início da vida? O feto não teve escolha, é justo escolher por ele? Se nossa legislação compreender que o feto já é uma vida, o aborto é um homicídio tipificado pelo nosso código penal. De acordo com a ciência médica, a questão sobre o início da vida ainda é discutível, a maioria dos pesquisadores acredita que ela é iniciada a partir da presença dos primeiros batimentos fetais que já podem ser observados em algumas semanas, entre 7-8 semanas, o feto sem batimentos não é viável. Outros, já consideram a viabilidade do feto e portanto o início da vida intra-uterina quando os órgãos já se encontram formados. E a maioria dos abortos espontâneos ocorrem nesse período em que o zigoto não é viável, devido a má formações genéticas, e na maior parte dos casos de maneira imperceptível como se fosse um ciclo menstrual irregular. Dessa maneira, se considerarmos que antes de dessas semanas não há vida, podemos considerar que a mulher é responsável por si, ou seja, pelo seu corpo, do momento da concepção até o início da vida e que ninguém possui o direito de intervir? Ou devemos entender que mesmo não sendo uma vida, há uma potencialidade de vir a ser e portanto não cabe a mulher cercear o “direito” desse zigoto tornar-se vida?
            Concordo com Alasdair MacIntyre ao diagnosticar que há uma incomensurabilidade de argumentos entre os que defendem e os que não defendem a descriminalização aborto, principalmente se os argumentos estiverem fundamentados na religião virando um jogo de afirmação e contra-afirmação sem nenhum posicionamento legítimo, por isso é mais do que necessário que esse tema seja exaustivamente debatido.Nos dias de hoje, passamos por um melange de princípios morais, que perpetuamos e nem mesmo sabemos porque, nossa linguagem moral está passando por um momento de desordem, é como se do dia pra noite disessemos, vamos matar todos os cientistas porque as mazelas do mundo foram causadas por eles, e prendessemos, matássemos os cientistas, e seus livros fossem rasgados. Depois um novo partido determinasse: não, os cientistas não são responsáveis pelo que houve de errado, vamos reestruturar as ciências, mas como paginas foram arrancadas, teorias superadas dividem o mesmo lugar com teorias modernas, o que causa a desordem na linguagem moral que deve ser estruturada, mas como? Nietzsche já diagnostica isso, mas não dá nenhuma solução, e acredito que podemos chegar a um consenso sobre o assunto, baseado na solução macIntyriana para a desordem de tal linguagem moral.
            O que me incomoda é o fato de que podemos escolher um candidato a presidência em detrimento de outro [deixo claro que não tomo posicionamento por nenhum dos candidatos, mas pela questão] tendo por base um posicionamento legítimo sobre um tema que deve ser discutido [mas o que me passa é que essa discussão não pode nem mesmo ser feita porque vai de encontro aos mandamentos de Deus] enquanto se escolhe palhaços, jogadores de futebol, cantores, estilistas para nos representar no Congresso Nacional só porque são famosos....Mas ainda me incomodou mais a possibilidade de um candidato ter que assinar um documento se comprometendo a não legislar sobre o assunto por pressão de instituições religiosas para se manter na disputa. A sociedade brasileira não pode fugir dessa discussão, não podemos ficar parados no tempo, a moral evolui com o tempo, ou seja, essa evolução deve acompanhar os valores, princípios e normas, com as quais se relaciona.

Ps.: Espero que minha mãe nunca leia esse texto, se não vai enfartar, ela é evangélica e acha meus posicionamentos um verdadeiro absurdo, sempre fala a mesma coisa: “não sei porque estuda tanto, só aprende o que não presta.