sábado, 27 de novembro de 2010

"COM QUANTOS BRASIS SE FAZ UM BRASIL? COM QUANTOS BRASIS SE FAZ UM PAÍS? CHAMADO BRASIL!!! "

 
          Em conversa por msn com uma amiga, perguntei o que ela achava de toda a polêmica após a eleição da futura presidenta Dilma Roussef e das palavras de preconceito e ódio direcionadas aos nordestinos que alguns creditam terem sido os determinantes da eleição.Ela respondeu que a mídia estava dando muita atenção porque afinal de contas são apenas palavras. De fato, concordo com ela, a mídia deu atenção demais, mas com enfoque errado e ao mesmo tempo, discordo dela, não são apenas palavras,são mais do que palavras, são idéias e tenho muito medo de idéias, principalmente da difusão rápida como ocorre na atualidade com a tecnologia que possuímos, em que tudo é tão instâtaneo. Épocas que não tinham o mesmo avanço tecnológico que o nosso, com a proliferação de idéias e um terreno fértil para o seu desenvolvimento fizeram estragos gigantescos na história mundial. Dentre os eventos da história mundial, destaco a Revolução Francesa e a II Guerra Mundial, ambas começaram com idéias que em um terreno fértil prosperaram e deram frutos, frutos podres marcados pela violência e o terror , apesar também terem dados bons frutos, como idéias que contribuíram para a formação de princípios universais dos direitos do homem e do cidadão, nos quais nossa atual sociedade está baseada, assim como o aperfeiçoamento dos direitos humanos. Mas será que para obter bons frutos devemos várias e várias safras de frutos podres? Ou podemos cuidar da nossa árvore?
            Em outras palavras, foram as idéias que propiciaram tanto a Revolução Francesa quanto a II Guerra Mundial, e fizeram com que inúmeras pessoas aderissem a elas. Em período anterior a Revolução Francesa, o sentimeno era de revolta diante das injustiças sociais, foi a fermentação intelectual que propiciou o início da revolução. Nesse período eram poucos os que tinham acesso aos textos filosóficos como os de Rousseau, Montesquieu, Voltaire, Diderot e outros, mas existia uma elite que tinha acesso a eles e que passou a redigir livros sobre os textos filosóficos, o que hoje no meio acadêmico chamamos de comentadores, passando a deixar as idéias mais acessíveis aos salões filosóficos, local onde tais idéias eram discutidas de maneira democrática. Mas havia também os ideologos, pessoas que não apenas escreviam sobre a situação pela qual viam que a população passava mas também proponham soluções, como Robespierre, Danton, Marat e outros...que imbuídos de idéias filosóficas e de propostas iniciaram a revolução ao inflamar o povo. A Revolução Francesa é um exemplo de como idéias apesar de nobres fizeram com que um Estado virasse contra o seu povo e quase o esmagasse. Imaginem o que idéias de preconceito e racismo como as declaradas por alguns poderia proporcionar se tivessem um terreno fértil para se desenvolver? Mas você não precisa usar muito da sua imaginação porque isso já ocorreu, quando e onde? II Guerra Mundial com o nazismo.  
            Já no século XX, quase dois séculos após a Revolução Francesa, ocorre a IIGM sob a liderança de Hitler, que diante da situação em que seu país passava após a I Guerra Mudial impregnados pelo sentimento de injustiça que acreditavam ter sofrido ao pagar idenização, entregar territórios, se desarmar e pedir desculpas publicamente propiciando um terreno extremamente fértil para que suas idéias arianas se desenvolvessem e que toda uma nação concordasse com os seus atos. De forma alguma quero comparar a situação de preconceito que ocorreu após as eleições desse ano nem com um evento e nem com outro, o que eu quero é alertar que idéias em um terreno fértil são perigosas e devem ser discutidas exaustivamente pela sociedade, principalmente nas escolas e universidades que são mecanismos de socialização e aprendizagem. Mas talvez isso não seja suficiente pois afinal de contas, as pessoas que deflagraram as palavras de ódio são teoricamente - e nesse momento acho que me repito um pouco – pessoas que fazem parte da elite intelectual brasileira uma vez que conseguiram entrar no ensino superior seja ele público ou privado o que não é uma realidade para a maioria da população brasileira.
            Diante, da periculosidade das idéias, não podemos deixar situações como essa passar em branco como se não fosse nada. [Nem vou alertar para o fato de que tal ato de preconceito é considerado crime na nossa legislação brasileira.] Acredito que os anos passaram, mas certos esteriotipos ainda não foram desfeitos e devem ser desfeitos, quando as pessoas perguntam de onde sou e digo: “sou de Teresina, Piauí”, elas se surpreendem e exclamam: “Nossa, do Piauí? longe né?” Os que não são nordestinos ainda acham que a vida no Nordeste é uma vida dura, o que não deixa de ser uma verdade porque há muita pobreza ainda, mas pobreza não é sinônimo de atraso e nem mesmo de subdesenvolvimento seja ele cultural, econômico, educacional e político, não podemos generalizar acreditando que no nordeste não haja boas escolas, boas universidades, pessoas produtores de cultura e que pensam. Com isso não quero dizer de forma nenhuma que o Nordeste é uma Suiça, eu sei que não é, há muita pobreza, mas pobreza há em todo o país, claro que eu nunca vou poder comparar uma cidade do interior do nordeste a uma cidade do interior de São Paulo, que até mesmo por questões históricas, se desenvolveram de maneira diferentes. No entanto, também há pobreza no estado de São Paulo e isso não faz dele, um estado atrasado ou subdesenvolvido. Acredito que as pessoas que não conhecem o nordeste precisam conhecê-lo para constatar que ele é mais do que só pobreza e  a indústria da seca, mas não precisam nem conhecer, basta se instruir melhor.
            Parece que as pessoas que proliferaram tais idéias tem uma visão distorcida e decadente de dominador e dominado, de que o Sul do Brasil por possuir uma situação financeira melhor em relação a outras regiões brasileiras está em uma condição de dominador e o nordeste, de dominado como na época das colonizações em que Portugal era o dominador e “nós”, os dominados, quer dizer, mais precisamente os indígenas. Assim como na época das neo-colonizações,por exemplo, em que a Inglaterra era o dominador e a Índia, o dominado. E a primeira coisa que faziam ao entrar em contato com essas sociedades era impor sua língua, cultura e modo de viver, é basicamente isso que essa meia dúzia de pessoas demonstram com essas idéias em redes sociais, ou seja, apenas a sua região em uma situação econômica melhor e com pessoas melhor instruídas, sem pobreza, detém o conhecimento do que é melhor para o país e por isso devem impor sua vontade, mas quando isso não ocorre, como no caso em questão, demonstram que sofrem da “síndrome do filho único” e começam a chorar, fazer manha e por fim agredir até obterem o objeto do seu desejo.
            Mas essas manifestações me deixam triste ao constar que o meu país não possui uma unidade, que a música “Sob o céu” do Lenine é apenas uma música, e mais nada: “Sob o mesmo céu, Cada cidade é uma aldeia. Uma pessoa! Um sonho, uma nação.Sob o mesmo céu. Meu coração não tem fronteiras,nem relógio, nem bandeira,só o ritmo de uma canção maior...A gente vem do tambor do Índio, a gente vem de Portugal, vem do batuque negro, a  gente vem do interior e da capital, a gente vem do fundo da floresta, da selva urbana,dos arranha-céus, a gente vem do pampa, vem do cerrado, vem da megalópole, vem do Pantanal, a gente vem de trem, vem de galope, de navio, de avião, motocicleta, a gente vem a nado, a gente vem do samba, do forró, a gente veio do futuro, conhecer nosso passado...Brasil! Com quantos Brasis se faz um Brasil? Com quantos Brasis se faz um país? Chamado Brasil!A gente vem do rap, da favela, a gente vem do centro do subúrbio, da periferia, a gente vem da maré, das palafitas, vem dos Orixás da Bahia. A gente traz um desejo de alegria e de paz. E digo mais: A gente tem a honra de estar ao seu lado.A gente veio do futuro. Conhecer nosso passado...”
            Será que essas pessoas não pertencem ao mesmo Brasil que eu pertenço? Será que é um Brasil ou vários? Será que meu Brasil é pior do que o deles? Será que o povo do meu Brasil não é digno de respeito?


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